A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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quarta-feira, 13 de março de 2013

AS MIL MILHAS EM QUE TRABALHEI NOS BASTIDORES.


DODGE VIPER GTS 7000cc do trio Italiano Zonca/Lancellotti/Gollin

A 32ª edição das Mil Milhas Brasileiras estava para acontecer naquele mês de janeiro de 2004 Havia acabado de chegar de curta viagem a Curitiba, quando meu filho perguntou: Pai que trabalharmos nestas Mil Milhas. Em vez de pagar para ver, a gente vê a corrida de dentro como você nos seus velhos tempos sem ter que pagar. O convite na verdade vinha da mãe do Renato, um amigo do meu filho. Ela iria fornecer todo o combustível que as equipes iriam utilizar na corrida ( trabalho herdado de seu falecido marido ) e que pelo contrato com a organização da prova este fornecimento deveria ser por uma única distribuidora, afim de evitar “muitas duvidas e confusões”. 

Carro 80 Aldee Spyder motor VW 2000cc de Agostinho Ardito e Vito Ardito Neto.

Para mim, eu parecia estar retornando no tempo de juventude, inclusive em razão de estar acontecendo comigo naquele momento, uma situação muito semelhante ao do passado ou seja; a de estar momentaneamente desempregado (em razão de uma decisão política, das mais sujas na expressão da palavra, de cortar empregado com mais de 55 anos com exceção dos apadrinhados políticos e “daqueles” em cargo de direção), e aguardando uma oportunidade para os próximos dias numa nova empresa . O nosso time era composto pela Dona Neuza que gerenciava toda a operação, mais um senhor que ajudava na contabilidade (todas as equipes antes de iniciar a competição tinham que efetuar o depósito de um cheque caução por conta do fornecimento) e supervisão e; pelo operacional (todos uniformizados de calça escura ou jeans e camiseta branca) onde lá estavam o Silvio ( um grande amigo e companheiro de automodelismo ), o meu filho Marcio, o Renato (TOP) e Eu o tio da turma. Fazia parte também do operacional três operadores de bomba de gasolina e alcool. Nosso equipamento consistia de dois caminhões tanques de grande porte que ficaram estacionados atrás dos boxes, três bombas elétricas de combustível e duas pickups Saveiro para fazer o translado dos galões do Posto para os Boxes das Equipes. Por incrível que pareça, lá estávamos “nós” no contato direto com todas as equipes indistintamente, garantindo lhes no momento exato os galões do combustível necessário para suas máquinas correrem (por razão de segurança, em nenhum boxe podia ficar estocado mais do que um galão de 3,8 L) 

 Carro 17 Aldee Spyder motor VW 2000cc de AmauryPires, Maurcio Sciola e Mauricio Monte

Em tempo algum nossa valorosa equipe deixou a peteca cair, era carro parar no boxe para reabastecimento que o estoque necessário lá estava a disposição, tínhamos em mãos todas as planilhas de paradas de todas as equipes e com base nelas estabelecemos um forte esquema de entrega. Este contato direto durante as onze horas de corrrida proporcionou-nos uma cordialidade muito grande com os pilotos e mecânicos de todas as equipes e em especial com os austríacos e italianos que não se cansavam de agradecer e nos convidar para as suas mesas de refeição. Mesmo com toda garôa e depois chuva que não nos abandonava, esta Mil Milhas foi uma das mais sensacionais que eu já assisti, apesar de não estar correndo nenhuma das minhas queridas e saudosas carreteras. As máquinas que ali estavam representavam o que havia de mais moderno no automobilismo esportivo e eu particularmente talvez pelos laços familiares italianos de minha esposa acabei torcendo pela equipe do Stefano um italiano muito bem humorado que fez questão de me mostrar nos seus mínimos detalhes o VIPER GTS com o qual eles iriam correr e acabaram vencendo a corrida. 

 Carro ZF/Chevrolet de Ruyter Pacheco, Flavio Andrade e Felipe Giafone - momentos antes de abandonar a prova

Como em todas as Mil Milhas, muitos carros e bons pilotos ficam pelo caminho até mesmo alguns dados como favoritos como foi o caso do Ingo Hoffmam com Porsche e o Xandy Negrão com um Audi TT. 
Final de corrida, bandeirada de chegada dada aos vencedores nas suas mais diversas categorias, champagne no Podium, despedidas e mil agradecimentos a todos aqueles com quem por onze horas estivemos envolvidos, sentido por vezes seus dramas e desesperos e por vezes suas alegrias e euforia. 
Particularmente, nós da pequena equipe de combustíveis apesar de exaustos pela virada da noite, estávamos felizes e orgulhosos pelo dever cumprido e com aquele gostinho e satisfação de “seres privilegiados”, que puderam estar perto, mas muito perto mesmo daquelas fantásticas máquinas de corrida e seus valorosos e audazes pilotos.
Caso um dia me apareça uma nova oportunidade para atuar nos bastidores de uma corrida, espero que a minha situação pessoal no momento não lembre a situação das duas vezes anteriores, pois de resto nada se compara a emoção de viver aqueles mágicos momentos.


Fernando J. Fagundes

Hiperfanauto
http://www.hiperfanauto.blogspot.com.br

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Meu amigo Fernando deu este belo depoimento para o Histórias em 7 de Dezembro de 2009, hoje resolvi mostra-lo novamente, ao amigo um forte abraço.

Rui Amaral jr 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

HIPERFANAUTO



Fernando,apenas obrigado!

sábado, 9 de janeiro de 2010

O PRIMEIRO CIRCUITO DA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Sempre tive a maior simpatia e admiração pela cultura dos nossos irmãos gaúchos que através dos CTGs – Centros de Tradição Gaúcha têm transmitindo de geração a geração a sua saga, os seus costumes e os seus valores de cidadania e patriotismo, sendo este ultimo, heroicamente exaltado no Movimento Farroupilha de luta contra os desmandos e intolerância do Reinado Imperial que na época governava o Brasil.


E como não poderia deixar de ser, nada melhor que comemorar o Centenário da Revolução Farroupilha com uma grande prova automobilística, que viria a ser o “Primeiro Circuito da Cidade de Porto Alegre”

Semelhança ou não com a data da proclamação da república brasileira, esta grande corrida
aconteceu num belo dia de 15 de novembro de 1935, sob a organização do Touring Club.


Os concorrentes


O grid de largada era composto por 11 pilotos assim distribuídos:


- representando o Rio de Janeiro veio o carioca Hugo Souza com um Ford V8 preparado para competição conforme os moldes da época (carroceria aliviada ao máximo) ao estilo cupê sem capota.
- do Uruguai veio o piloto Ramon Sierra também com um cupê Ford V8 preparado e sem capota.
- os demais corredores eram todos do Rio Grande do Sul sendo; Joaquim Fonseca que participou com um Ford Modelo A, João Pinto, Olynto Pereira, Olavo Guedes, Norberto Jung, Ludovico Karpilovsk, Adolfo Pinto, Raul Lazarini e Oscar Bins


O circuito (piso misto – cimento / asfalto / terra, numa extensão total de 13 km)


A linha de largada era no Largo do Cristal, sendo os quatro primeiros quilômetros em pista pavimentada de cimento (até Pedra Redonda). Os quatro quilômetros seguintes eram em pista pavimentada por massa asfáltica (até o Passo da Cavalhada). Os cinco quilômetros finais eram em pista de terra batida com Rodoil (uma espécie de óleo queimado).




Os carros


Em sua maioria Cupês da marca Ford com motor V8 especialmente preparados para competição segundo os padrões da época. Participaram também Ford Mod. A, Ford Sport 4 e cupê Hudson.


A corrida


Tão logo foi dada a largada, Norberto Jung com o seu Ford V8 super preparado, assume a liderança do pelotão, dando mostras que venceria a prova. Após 3h 03m 58 s de corrida e com uma velocidade média de 101 km / h, Norberto Jung vencia com meio circuito de vantagem sobre Olynto Pereira o Grande Premio Farroupilha ou seja; o Primeiro Circuito da Cidade de Porto Alegre.


Classificação final


10. Norberto Jung com Ford V8 – 3h 03m 58s, 101 km/h
20. Olynto Pereira com Ford V8 – 3h 08m 50s, 98km/h
30. Oscar Luiz Bins com Ford V8 – 3h 11m 27s, 97 km/h
40. Joaquim Fonseca com Ford Mod. A – 3h 30m 50s, 92 km/h


Fatos pitorescos


Tal como nas melhores Prefeituras da vida, a de Porto Alegre na pessoa de seu Prefeito não poderia deixar de ser diferente. Muito preocupado com o péssimo estado de conservação dos dois quilômetros finais do circuito (o chamado Beco do Cristal) ordenou que fossem iniciados eficientes consertos para a corrida.
(minha opinião – seria muito bom se em São Paulo tivéssemos pelo menos uma vez por mês uma prova de circuito de rua, assim quem sabe?)



Preparativos para a largada do que viria a ser o Primeiro Circuito da Cidade de Porto Alegre



O piloto Norberto Jung com o seu super preparado Ford V8 em uma das passagens pelo circuito.



O piloto Oscar Luiz Bins com o seu Ford V8 ao estilo de preparação da época em uma das passagens pelo circuito.

Violenta capotagem do piloto uruguaio Ramon Sierra


Publico presente para assistir o espetáculo



O piloto Norberto Jung com seu Ford V8 de numeral 16 rumo a vitória.



Da esquerda para a direita, Olynto, Jung e Bins



FORD V8 PREPARADO SEGUNDO OS PADRÕES DA ÉPOCA


Era o carro mais utilizado pela maioria dos pilotos. Com um modelo semelhante a este os pilotos gaúchos Cícero Marques Porto e Norberto Jung, classificaram-se respectivamente em quarto e quinto lugares no Circuito da Gávea de 1936, atrás somente de máquinas européias (Bugatti, Fiat e Alfa Romeo) tecnologicamente superiores.






Notas do editor


1 - Para elaboração desta matéria, foram utilizadas as seguintes fontes de pesquisa:
• Livro Automobilismo no Tempo das Carreteras de Luiz Fernando Andreatta e Paulo Roberto Renner - 1ª edição 1992
• Enciclopédia do Automóvel da Editora Abril
2 – Esta matéria tem o único e exclusivo objetivo de divulgação cultural de um “evento marco” do automobilismo gaúcho, que foi o Primeiro Circuito da Cidade de Porto Alegre ocorrido no ano de 1935.




FF - SP / Janeiro / 2010



NT. Agradeço o privilegio e a honra a meu amigo Fernando Fagundes por esta postagem. Rui Amaral

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

AS MIL MILHAS EM QUE TRABALHEI NOS BASTIDORES.



DODGE VIPER GTS 7000cc do trio Italiano Zonca/Lancellotti/Gollin

A 32ª edição das Mil Milhas Brasileiras estava para acontecer naquele mês de janeiro de 2004 Havia acabado de chegar de curta viagem a Curitiba, quando meu filho perguntou: Pai que trabalharmos nestas Mil Milhas. Em vez de pagar para ver, a gente vê a corrida de dentro como você nos seus velhos tempos sem ter que pagar. O convite na verdade vinha da mãe do Renato, um amigo do meu filho. Ela iria fornecer todo o combustível que as equipes iriam utilizar na corrida ( trabalho herdado de seu falecido marido ) e que pelo contrato com a organização da prova este fornecimento deveria ser por uma única distribuidora, afim de evitar “muitas duvidas e confusões”.


Carro 80 Aldee Spyder motor VW 2000cc de Agostinho ardito e Vito Ardito Neto.

Para mim, eu parecia estar retornando no tempo de juventude, inclusive em razão de estar acontecendo comigo naquele momento, uma situação muito semelhante ao do passado ou seja; a de estar momentaneamente desempregado (em razão de uma decisão política, das mais sujas na expressão da palavra, de cortar empregado com mais de 55 anos com exceção dos apadrinhados políticos e “daqueles” em cargo de direção), e aguardando uma oportunidade para os próximos dias numa nova empresa . O nosso time era composto pela Dona Neuza que gerenciava toda a operação, mais um senhor que ajudava na contabilidade (todas as equipes antes de iniciar a competição tinham que efetuar o depósito de um cheque caução por conta do fornecimento) e supervisão e; pelo operacional (todos uniformizados de calça escura ou jeans e camiseta branca) onde lá estavam o Silvio ( um grande amigo e companheiro de automodelismo ), o meu filho Marcio, o Renato (TOP) e Eu o tio da turma. Fazia parte também do operacional três operadores de bomba de gasolina e alcool. Nosso equipamento consistia de dois caminhões tanques de grande porte que ficaram estacionados atrás dos boxes, três bombas elétricas de combustível e duas pickups Saveiro para fazer o translado dos galões do Posto para os Boxes das Equipes. Por incrível que pareça, lá estávamos “nós” no contato direto com todas as equipes indistintamente, garantindo lhes no momento exato os galões do combustível necessário para suas máquinas correrem (por razão de segurança, em nenhum boxe podia ficar estocado mais do que um galão de 3,8 L)


 Carro 17 Aldee Spyder motor VW 2000cc de AmauryPires, Maurcio Sciola e Mauricio Monte

Em tempo algum nossa valorosa equipe deixou a peteca cair, era carro parar no boxe para reabastecimento que o estoque necessário lá estava a disposição, tínhamos em mãos todas as planilhas de paradas de todas as equipes e com base nelas estabelecemos um forte esquema de entrega. Este contato direto durante as onze horas de corrrida proporcionou-nos uma cordialidade muito grande com os pilotos e mecânicos de todas as equipes e em especial com os austríacos e italianos que não se cansavam de agradecer e nos convidar para as suas mesas de refeição. Mesmo com toda garôa e depois chuva que não nos abandonava, esta Mil Milhas foi uma das mais sensacionais que eu já assisti, apesar de não estar correndo nenhuma das minhas queridas e saudosas carreteras. As máquinas que ali estavam representavam o que havia de mais moderno no automobilismo esportivo e eu particularmente talvez pelos laços familiares italianos de minha esposa acabei torcendo pela equipe do Stefano um italiano muito bem humorado que fez questão de me mostrar nos seus mínimos detalhes o VIPER GTS com o qual eles iriam correr e acabaram vencendo a corrida.


 Carro ZF/Chevrolet de Ruyter Pacheco, Flavio Andrade e Felipe Giafone - momentos antes de abandonar a prova

Como em todas as Mil Milhas, muitos carros e bons pilotos ficam pelo caminho até mesmo alguns dados como favoritos como foi o caso do Ingo Hoffmam com Porsche e o Xandy Negrão com um Audi TT.
Final de corrida, bandeirada de chegada dada aos vencedores nas suas mais diversas categorias, champagne no Podium, despedidas e mil agradecimentos a todos aqueles com quem por onze horas estivemos envolvidos, sentido por vezes seus dramas e desesperos e por vezes suas alegrias e euforia.
Particularmente, nós da pequena equipe de combustíveis apesar de exaustos pela virada da noite, estávamos felizes e orgulhosos pelo dever cumprido e com aquele gostinho e satisfação de “seres privilegiados”, que puderam estar perto, mas muito perto mesmo daquelas fantásticas máquinas de corrida e seus valorosos e audazes pilotos.
Caso um dia me apareça uma nova oportunidade para atuar nos bastidores de uma corrida, espero que a minha situação pessoal no momento não lembre a situação das duas vezes anteriores, pois de resto nada se compara a emoção de viver aqueles mágicos momentos.


Fernando J. Fagundes

Hiperfanauto
http://www.hiperfanauto.blogspot.com/