A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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quinta-feira, 12 de abril de 2012

O "Jeitinho" Argentino - PEDRALBES 1951 - por Henrique Mércio


O "Jeitinho" Argentino- corria o ano de 1951 e Juan Manuel Fangio disputava o título da temporada com aquele que, talvez fosse o único corredor que conseguia peitá-lo: o italiano Alberto Ascari. Fangio era piloto da Alfa Romeo e guiava a Alfetta 159, o melhor carro de corridas do período pré-guerra. Estes modelos haviam sobrevivido ao conflito, passando os anos quarenta escondidos em uma fazenda na região de Piemonte e quando a paz retornou, impuseram seu domínio.Já o carro de Ascari era a Ferrari 375 F1, a legítima sucessora da Alfa nas corridas e notadamente, um carro mais moderno. A Alfa Romeo promovia seu canto dos cisnes nas competições participando de sua última temporada e claro, queria despedir-se com uma vitória. A Ferrari, nascera do sonho de Enzo Ferrari, antigo diretor esportivo da Alfa, e para o engenheiro Ferrari, a vitória sobre a Equipe do Trevo tinha um significado todo especial. Para isso ele depositava sua fé no modelo 375 F1, mais leve, veloz e mais econômico que as Alfettas. Aquela temporada iniciara com Fangio, "mordido" por ter deixado o título do ano anterior escapar, vencendo o GP da Suiça.

Luigi Fagiolli

El Chueco depois vencera o GP da França, ainda que tivesse problemas com seu carro e precisasse pegar "emprestado" o monoposto de Luigi Fagioli, seu companheiro de equipe. A Ferrari começou a reagir no GP da Inglaterra, com a vitória de Froilan Gonzalez, a 1ª de uma longa série de vitórias da Ferrari na categoria. Nas provas seguintes, só deu Ferrari, com Ascari ganhando em Nurburgring e Monza. Restava a etapa da Espanha, no circuito de rua de Pedralbes, periferia de Barcelona. Apesar da pequena vantagem de Fangio (3 pontos), o favorito era o homem do casco azul, Alberto Ascari. Principalmente depois que Ascari cravou a pole position. Uma disputa roda a roda com a Ferrari seria suicídio e Fangio percebeu que teria de usar algo diferente: a astúcia. Juntamente com o engenheiro Gioacchino Colombo, o argentino concebeu um plano e na hora de formar o grid, seu carro apareceu com tanques extras de combustível.

Fangio e a Alfetta.


Uma das vantagens da Ferrari ante a Alfa era sua autonomia: consumiam menos gasolina e aguentavam mais tempo na pista até precisar de um pit stop. Com aqueles tanques extras, a Alfa virava o jogo e quem sabe, pudesse fazer a corrida inteira sem parar (naquele tempo, as provas eram longas maratonas de quase três horas, tão demoradas quanto os pit stops, que estavam longe da precisão cirúrgica e rapidez atuais). O pessoal da Ferrari "surtou". Em busca de uma melhor performance , resolveram tornar o carro mais rápido trocando as rodas de aro 18 pelas de aro 16. Largada, Ascari mantém a ponta e Fangio o acompanha. Na sexta volta , Piero Taruffi, piloto da Ferrari recorre aos boxes com problemas de pneus; na volta seguinte, outro ferrarista, Gigi Villoresi tem o mesmo problema e logo depois é a vez do líder Ascari, que deixa a liderança no colo do Fangio. O restante da prova pode ser resumido numa via crucis dos pilotos do Cavalinho Rampante, cujos pneus apresentavam um desgaste rápido causado pelas novas rodas.
 Nem o Cabezon Gonzalez escapou. E enquanto esse drama acontecia, o tranquilo líder Fangio também foi ao boxe para fazer...um pit stop. É verdade que sua Alfa tinha tanques extras, mas não havia uma gota sequer de gasolina neles. Estavam vazios. Tudo o que queria era induzir a Ferrari a um erro, ao tentar algo desesperado. De volta à pista, Fangio "passeou" até o fim das 70 voltas. Ganhou a corrida, o título e ainda fez uma "dobradinha" portenha com Froilan Gonzalez, segundo colocado e o melhor entre os Ferrari.

Fangio chega vitorioso em Pedralbes.
Giusepe Farina e a Alfetta Campeão do Mundo de 1950. 

O terceiro foi o campeão anterior, Nino Farina com outra Alfa e por fim Ascari, um piloto infalível quando largava na frente, mas que tinha a tendência a desesperar-se quando andava no meio do pelotão. Estava reservado a eles, destinos diferentes. Fangio, sem equipe, procuraria refugio na Maserati. Em maio/52, sofreu um grave acidente em Monza, depois de passar uma noite inteira dirigindo para chegar a Milão. O cansaço o induziu ao erro e Fangio ficou quase um ano de fora das carreras, dando chance para Ascari brilhar. E o grande Alberto aproveitou: venceu o mundial de 1952 com um número absurdo de seis vitórias em 7 GPs. Em 1953, ainda com a Ferrari, foram cinco vitórias e de novo, campeão. Mas Fangio já estava recuperado e no campeonato de 53, tivera uma boa participação conseguindo três segundos lugares e uma vitória. Todavia o destino caprichoso mais uma vez intercedeu, promovendo nova ascensão do argentino e a queda fatal de Ascari. Mas esta é história para outro dia. 

Henrique Mércio - Caranguejo

Juan Manoel Fangio e Tazio Nuvolari.












segunda-feira, 1 de março de 2010

O "Jeitinho" Argentino - PEDRALBES 1951 - por Henrique Mércio




O "Jeitinho" Argentino- corria o ano de 1951 e Juan Manuel Fangio disputava o título da temporada com aquele que, talvez fosse o único corredor que conseguia peitá-lo: o italiano Alberto Ascari. Fangio era piloto da Alfa Romeo e guiava a Alfetta 159, o melhor carro de corridas do período pré-guerra. Estes modelos haviam sobrevivido ao conflito, passando os anos quarenta escondidos em uma fazenda na região de Piemonte e quando a paz retornou, impuseram seu domínio.Já o carro de Ascari era a Ferrari 375 F1, a legítima sucessora da Alfa nas corridas e notadamente, um carro mais moderno. A Alfa Romeo promovia seu canto dos cisnes nas competições participando de sua última temporada e claro, queria despedir-se com uma vitória. A Ferrari, nascera do sonho de Enzo Ferrari, antigo diretor esportivo da Alfa, e para o engenheiro Ferrari, a vitória sobre a Equipe do Trevo tinha um significado todo especial. Para isso ele depositava sua fé no modelo 375 F1, mais leve, veloz e mais econômico que as Alfettas. Aquela temporada iniciara com Fangio, "mordido" por ter deixado o título do ano anterior escapar, vencendo o GP da Suiça.

 El Chueco depois vencera o GP da França, ainda que tivesse problemas com seu carro e precisasse pegar "emprestado" o monoposto de Luigi Fagioli, seu companheiro de equipe. A Ferrari começou a reagir no GP da Inglaterra, com a vitória de Froilan Gonzalez, a 1ª de uma longa série de vitórias da Ferrari na categoria. Nas provas seguintes, só deu Ferrari, com Ascari ganhando em Nurburgring e Monza. Restava a etapa da Espanha, no circuito de rua de Pedralbes, periferia de Barcelona. Apesar da pequena vantagem de Fangio (3 pontos), o favorito era o homem do casco azul, Alberto Ascari. Principalmente depois que Ascari cravou a pole position. Uma disputa roda a roda com a Ferrari seria suicídio e Fangio percebeu que teria de usar algo diferente: a astúcia. Juntamente com o engenheiro Gioacchino Colombo, o argentino concebeu um plano e na hora de formar o grid, seu carro apareceu com tanques extras de combustível.
Fangio e a Alfetta.

Uma das vantagens da Ferrari ante a Alfa era sua autonomia: consumiam menos gasolina e aguentavam mais tempo na pista até precisar de um pit stop. Com aqueles tanques extras, a Alfa virava o jogo e quem sabe, pudesse fazer a corrida inteira sem parar (naquele tempo, as provas eram longas maratonas de quase três horas, tão demoradas quanto os pit stops, que estavam longe da precisão cirúrgica e rapidez atuais). O pessoal da Ferrari "surtou". Em busca de uma melhor performance , resolveram tornar o carro mais rápido trocando as rodas de aro 18 pelas de aro 16. Largada, Ascari mantém a ponta e Fangio o acompanha. Na sexta volta , Piero Taruffi, piloto da Ferrari recorre aos boxes com problemas de pneus; na volta seguinte, outro ferrarista, Gigi Villoresi tem o mesmo problema e logo depois é a vez do líder Ascari, que deixa a liderança no colo do Fangio. O restante da prova pode ser resumido numa via crucis dos pilotos do Cavalinho Rampante, cujos pneus apresentavam um desgaste rápido causado pelas novas rodas.
 Nem o Cabezon Gonzalez escapou. E enquanto esse drama acontecia, o tranquilo líder Fangio também foi ao boxe para fazer...um pit stop. É verdade que sua Alfa tinha tanques extras, mas não havia uma gota sequer de gasolina neles. Estavam vazios. Tudo o que queria era induzir a Ferrari a um erro, ao tentar algo desesperado. De volta à pista, Fangio "passeou" até o fim das 70 voltas. Ganhou a corrida, o título e ainda fez uma "dobradinha" portenha com Froilan Gonzalez, segundo colocado e o melhor entre os Ferrari.

Fangio chega vitorioso em Pedralbes.

Giusepe Farina e a Alfetta Campeão do Mundo de 1950. 

 O terceiro foi o campeão anterior, Nino Farina com outra Alfa e por fim Ascari, um piloto infalível quando largava na frente, mas que tinha a tendência a desesperar-se quando andava no meio do pelotão. Estava reservado a eles, destinos diferentes. Fangio, sem equipe, procuraria refugio na Maserati. Em maio/52, sofreu um grave acidente em Monza, depois de passar uma noite inteira dirigindo para chegar a Milão. O cansaço o induziu ao erro e Fangio ficou quase um ano de fora das carreras, dando chance para Ascari brilhar. E o grande Alberto aproveitou: venceu o mundial de 1952 com um número absurdo de seis vitórias em 7 GPs. Em 1953, ainda com a Ferrari, foram cinco vitórias e de novo, campeão. Mas Fangio já estava recuperado e no campeonato de 53, tivera uma boa participação conseguindo três segundos lugares e uma vitória. Todavia o destino caprichoso mais uma vez intercedeu, promovendo nova ascensão do argentino e a queda fatal de Ascari. Mas esta é história para outro dia. Henrique Mercio
 
Juan Manoel Fangio e Tazio Nuvolari.